>Cartas:

"Querido Adomis

___________________________________________________________________________________

Recebi sua carta de noite passada! É uma grande idéia! Agora finalmente poderemos conversar sem medo que ninguém descubra; foi muito chato ter que mentir para tia May aquele dia na capela, eu disse que estava ensaiando para uma peça do colégio, mas ela não acreditou.

Acho que ela pensa que eu estou fumando alguma coisa. Outro dia veio com um papo sobre o tempo em que ela era jovem, na época dos hippies e tal... Mas acho que ela não vai fazer nada muito dramático sobre a questão. Está muito envolvida com a visita de Roger e os preparativos para o casamento.

Não me lembro se já te contei sobre o Roger; ele é arquiteto e mora em uma cidade na América chamada Nova York, nós o conhecemos no aeroporto; ele até é legal, mesmo eu não entendendo quase nada do que ele diz; é moreno, alto, igualzinho a Javier Bardem!

Desculpe não ter te contado antes sobre ele, é que as coisas estão acontecendo tão rápido! Parece que o casamento vai ficar para julho! Mas eu até entendo a tia May, dês que eu me lembro ela sempre esteve sozinha.

Não acho que tia May seja feia, é que ela é muito ocupada. Me lembro de quando eu era pequena - foi bem na época em que nos conhecemos - e ela nunca estava em casa; se lembra de como ficávamos tentando ficar acordados esperando por ela?

Ah! Mas que bom que agora tudo isso vai mudar! Agora que o velho Edward morreu e nos deixou a empresa, tia May não precisa mais trabalhar tanto...Aquele velho nojento. Estou contente por ter livrado o mundo de sua existência. O modo nojento como olhava para mim me dava ânsias. Ele nunca foi bom conosco; mesmo sendo sua filha, nunca ajudou May durante uma daquelas varias crises, e ainda esnobava: " Mas por que razão sua tia May não pode vir conosco a Ópera, criança? Desculpe, receio não ter entendido" dava para ouvir claramente ele rindo de nós com aqueles outros velhos nojentos amigos dele depois que eu dizia que ela estava trabalhando. Velhos imundos, que morram um por um. Edwart só nos deixou a empresa como seu ultimo "ato de misericórdia". Se pudesse, eu recusaria só para ver o velho se retorcer com o gosto amargo do próprio veneno; mas tia May precisava de um descanço, ela estava exausta.

Mas enfim, acho que Roger vai chegar a Berlim amanha ou depois, e iremos pega-lo no aeroporto. Por que você não aparece aqui em casa como antes? Estou morrendo de saudades, dês daquela ultima vez que nos encontramos na capela que não nos vemos, alem disso, duvido que a May me deixe ir tão cedo para lá depois do que aconteceu. Prometo que preparo uma torta de maçã para você.

*

Com amor, Lie"