Sabe, às vezes durante a noite, quando estava a ponto de adormecer, eu costumava me perguntar: “Por quê?”
As vezes eu sonhava. Sonhava com lírios vermelhos, que balançavam suavemente ao gélido sopro da noite, e eu caminhava hesitante para lugar algum, olhando para baixo, hipnotizada pelos lírios sem fim. E a noite inteira se resumia a isso; um incessante caminhar pelo interminável campo dos rubros lírios sangrentos.
Porem, com o passar do tempo, os lírios começaram a criar espinhos, e minha mente, antes tão vazia, começou a ser rasgada por vozes que ainda posso ouvir: “POR QUÊ? POR QUE ESTOU SEMPRE SÓ?! POR QUE EU SOU QUEM DEVE SOFRER?!”. Mas eu não consigo fugir, meus pés dilacerados não me obedecem, e continuo então a marchar por aquelas lâminas gulosas que prosseguiam alimentando aquele infernal campo de lírios com a minha dor.
Porem as vezes, quando me esforçava ao extremo, conseguia abrir os olhos. Mas do que vale acordar quando se continua a enxergar o pesadelo? Do que vale abrir os olhos para ver demônios? E era quando, acordada no meio da escuridão, me perguntava por quê:
Por que, depois de tudo o que aconteceu, eu continuo assinando essa sentença? Por que continuo registrando esses meus delitos? Só para mais um idiota vir e arrancar de mim tudo que eu acredito ser real?! Eu quero de volta a mentira que me impedia de enxergar o por quê! Pois antes, antes eu esperava pelo carteiro, que me trouxesse uma carta, antes eu esperava por Deus, que me trouxesse um milagre... Antes eu esperava a noite chegar, para poder sonhar. Antes no meio da noite eu me perguntava “Por quê? Por que isso tudo aconteceu comigo?” e chorava.
Agora nenhuma lágrima mais liberta essa minha dor, agora nenhuma esperança afrouxa esse nó na minha garganta, agora eu não espero mais, agora eu não me pergunto mais. Os lírios finalmente se foram, sangrando suas lágrimas sobre meus pés cansados; agora as noites são diferentes, e eu nunca mais me perguntei por quê.
Simplesmente, porque as coisas são como são.
Não adianta se perguntar por quê, nada nunca irá mudar.
Não se trata de desistir, se trata de acordar; acordar e perceber que o mundo na verdade não passa de um grande campo de flores;
Se trata de levantar a cabeça e ver que todas as pessoas do mundo estão ao seu redor, olhando para o chão e caminhando cegamente na mesma direção.
E a única pergunta que ocupa minhas noites é:
Do que vale poder abrir os olhos de manhã,
quando se continua a enxergar o pesadelo?
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